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A suspeita de falsificação da assinatura de Coronel Nunes não é apenas mais um escândalo isolado envolvendo a Confederação Brasileira de Futebol — é o reflexo de uma crise institucional que se arrasta há anos, com episódios sucessivos de interferência política, disputas judiciais, acordos nebulosos e uma cultura de bastidores que mais lembra conchavos de gabinete do que gestão esportiva.
Se confirmada, a fraude na assinatura de um ex-dirigente idoso, com déficit cognitivo atestado por laudo médico, para legitimar a permanência de um presidente no poder, é algo de extrema gravidade. Trata-se, no mínimo, de um atentado à legalidade e à ética. E, se houver dolo, é caso de polícia, não só de Justiça Desportiva.
Mais grave ainda é que esse tipo de episódio já não surpreende. A CBF vive uma sequência constrangedora de escândalos envolvendo seus dirigentes máximos. Antes de Ednaldo Rodrigues, outros presidentes também caíram sob forte suspeita ou foram afastados:
Ricardo Teixeira (1989–2012): renunciou após denúncias de corrupção, recebimento de propinas e envolvimento no escândalo da FIFA.
José Maria Marin (2012–2015): preso nos Estados Unidos durante a operação do FBI que expôs o FIFA Gate.
Marco Polo Del Nero (2015–2018): afastado pela FIFA e banido do futebol por corrupção, recebimento de subornos e obstrução de investigações.
Rogério Caboclo (2019–2021): afastado por denúncias de assédio moral e sexual feitas por funcionárias da CBF.
Com Ednaldo Rodrigues, a prática de manobras para se manter no poder ganhou contornos ainda mais preocupantes. Recentemente, vieram à tona denúncias de que ele teria autorizado aumentos generosos nos repasses financeiros aos presidentes das federações estaduais, justamente aqueles que compõem o colégio eleitoral da CBF. Um movimento visto por muitos como tentativa de comprar apoio e garantir sua permanência no cargo, em troca de favores e benesses que não têm qualquer relação com o desenvolvimento do futebol.
Esses aumentos não foram acompanhados de critérios técnicos, metas de desempenho ou qualquer compromisso com a melhoria do esporte nos estados. Foram, simplesmente, mais um capítulo da velha política de compadrio que domina os bastidores da CBF. Um uso descarado de recursos da entidade, que pertencem ao futebol brasileiro como um todo, para alimentar um sistema de lealdades e perpetuação no poder.
A CBF se tornou uma entidade marcada por escândalos e disputas internas, descolada da transparência, alheia às exigências de governança e refém de interesses políticos. A eleição e permanência de dirigentes viraram campo de batalha jurídica e não mais de debate sobre ideias, projetos ou modernização.
Esse desgaste institucional cobra um preço alto. A credibilidade da entidade está no chão, e isso impacta diretamente o futebol brasileiro. Perde-se a confiança dos clubes, das federações estaduais, da torcida e até de parceiros comerciais. E, pior: abre espaço para intervenções externas, como a da FIFA, que já advertiu contra interferências políticas em federações nacionais, podendo aplicar sanções severas.
A CBF precisa, urgentemente, passar por uma reformulação profunda, com auditoria real, abertura para o público, e um novo modelo de governança que coloque o futebol e não os jogos de poder como prioridade. Sem isso, a entidade continuará girando em círculos, repetindo velhos erros e arrastando com ela a imagem do futebol brasileiro.
A pergunta que fica é: até quando?